Fonte: G1
Eunício Oliveira (PMDB-CE) e José Medeiros (PSD-MT) afirmaram que entrarão na disputa. Inscrições de candidatos são aceitas até antes da votação, marcada para as 16h desta quarta (1º).
Após ficar quatro anos sob o comando de Renan Calheiros (PMDB-AL), o Senado irá escolher nesta quarta-feira (1º) quem irá presidir a Casa até fevereiro de 2019. O regimento interno permite que os senadores se lancem na disputa interna até o início da votação, marcada para as 16h.
Até esta terça-feira (31), somente os senadores Eunício Oliveira (PMDB-CE) e José Medeiros (PSD-MT) manifestaram interesse em concorrer ao cargo. Mas eles ainda não tinham oficializado as candidaturas – o prazo para inscrição vai até antes das 16h, horário previsto para se iniciar a votação.
O novo presidente acumulará a função com o comando do Congresso Nacional – instituição formada pela união da Câmara e do Senado. Além do poder político e das regalias em jogo na eleição, o sucessor de Renan será o segundo na linha de sucessão da Presidência da República.
Eunício Oliveira
Favorito na corrida pela presidência do Senado, Eunício Oliveira, 64 anos, circula pelos corredores do Congresso Nacional desde 1998, quando foi eleito deputado federal pela primeira vez.
O atual líder do PMDB no Senado se reelegeu para a Câmara em 2002 e em 2006, período em que também chegou a liderar a bancada peemedebista.
Em 2004, em seu segundo mandato como deputado, licenciou-se para assumir o Ministério das Comunicações no governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Natural de Lavras da Mangabeira – município cearense a 400 quilômetros de Fortaleza –, Eunício se elegeu para o Senado em 2010. O mandato dele se encerra em fevereiro de 2019.
Apesar de ser senador de primeiro mandato, ele ocupou duas funções importantes nos últimos seis anos: a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) – considerada a mais influente da Casa – e a liderança do PMDB.
Em seu primeiro mandato, Eunício relatou projetos importantes, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabeleceu um teto para os gastos federais nos próximos 20 anos. A proposta era a principal aposta do presidente Michel Temer em 2016.
Dono da maior bancada do Senado – com 19 senadores –, o PMDB de Eunício comandou a Casa ininterruptamente nos últimos 10 anos. A dinastia peemedebista tem dominado a presidência do Senado desde a redemocratização, em 1985.
Nos últimos 28 anos, a Casa teve apenas dois presidentes que não eram filiados ao PMDB: Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), entre 1997 e 2001, e Tião Viana (PT-AC), que ocupou um mandato-tampão de dois meses, em 2007, após a renúncia de Renan Calheiros.
Fortuna
Eunício Oliveira é o segundo parlamentar mais rico do Senado. Apenas o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) tem patrimônio declarado maior do que o do líder do PMDB.
Em 2014 – quando se candidatou ao governo do Ceará –, Eunício declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 99 milhões. Quatro anos antes, na eleição em que se elegeu senador, ele tinha declarado patrimônio de R$ 36,7 milhões.
A maior parte da fortuna de Eunício vem dos negócios que ele controla. O líder do PMDB é dono da Remmo Participações, conjunto de seis empresas que prestam serviços de segurança eletrônica, transporte de valores e táxi aéreo. As companhias do senador cearense prestam serviços, inclusive, para órgãos públicos federais.
O senador peemedebista também é dono da fazenda Santa Mônica, que ocupa grande porção de terras entre os municípios de Corumbá de Goiás e Alexânia, em Goiás.
Doações de campanha
Na eleição em que conquistou uma cadeira no Senado, Eunício foi um dos financiadores da própria campanha. Dos R$ 7,7 milhões que ele declarou à Justiça Eleitoral em 2010, mais de R$ 1,6 milhão veio de empresas do peemedebista e do próprio bolso. Naquele ano, o senador também contou com o aporte de empreiteiras.
A OAS, empresa investigada pela Lava Jato, doou R$ 750 mil para Eunício concorrer ao Senado. Outros R$ 420 mil vieram de empresas de engenharia.
Em 2014, a campanha de Eunício ao governo do Ceará recebeu, via PMDB, R$ 3,5 milhões da JBS; R$ 2,5 milhões da Amil; R$ 1,5 milhão da Camargo Correa; R$ 1,5 milhão da Vigor; e R$ 963 mil da Andrade Gutierrez.
No total, a campanha de Eunício ao governo cearense recebeu cerca de R$ 50 milhões em doações contabilizadas. Eunício Oliveira, no entanto, acabou sendo derrotado pelo petista Camilo Santana.
Lava Jato
Eunício não responde a nenhum processo no Supremo Tribunal Federal (STF), Corte responsável pelo julgamento de senadores. O parlamentar também não é alvo de inquéritos em andamento na Suprema Corte. No começo do ano, o peemedebista solicitou e recebeu uma certidão de “nada consta” no STF.
Porém, no fim do ano passado, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho disse, em seu acordo de pré-delação premiada, que pagou R$ 2,1 milhões em propina para o atual líder do PMDB.
Em troca, segundo o delator da Lava Jato, Eunício atuou em defesa dos interesses da empreiteira na votação de projetos de lei no Senado. Os dirigentes da Odebrecht chamavam o senador cearense de “índio” nas anotações de propina.
À época em que o conteúdo da delação veio à tona, Eunício afirmou “que todos os recursos arrecadados em suas campanhas foram recebidos de acordo com a lei e aprovados pela Justiça Eleitoral”.
Ele afirmou ainda que “nunca autorizou ninguém a negociar recursos em seu nome em troca de favorecimento à qualquer empresa”.
Outro delator da Lava Jato, o ex-diretor de Relações Institucionais da Hypermarcas Nelson Melo disse, declarou, em julho de 2016, que repassou R$ 5 milhões para a campanha de Eunício ao governo do Ceará por meio de contratos fictícios. A defesa do parlamentar nega irregularidades.
José Medeiros
Único senador que ensaia uma candidatura de oposição a de Eunício Oliveira, José Medeiros, 46 anos, é um novato na política.
Primeiro suplente de Pedro Taques (PSDB) no Senado, ele assumiu a cadeira no parlamento em 2015, após o titular renunciar ao mandato para comandar o governo do Mato Grosso. Medeiros é policial rodoviário de carreira.
A posse de Medeiros como senador foi marcada por um impasse dentro da própria chapa. Ele e o segundo suplente de Taques, Paulo Fiuza, travaram um embate pela cadeira do atual governador mato-grossense. No fim das contas, prevaleceu o registro da chapa no Tribunal Superior Eleitoral, que apresentava Medeiros como primeiro suplente.
Diferentemente de Eunício, que é milionário, José Medeiros declarou à Justiça Eleitoral, em 2010, um patrimônio de R$ 380 mil.
Ao G1, o senador do PSD disse que decidiu lançar candidatura porque percebeu que “muitos senadores” estavam insatisfeitos com a possibilidade de haver apenas a candidatura de Eunício ao comando da Casa.
Vice-líder do governo no Senado, o parlamentar do Mato Grosso ressalta que sua eventual candidatura não é uma oposição ao PMDB nem ao governo do presidente Michel Temer.
Ele tem afirmado que possível candidatura à presidência do Senado não é um instrumento de pressão para negociar cargos.
No entanto, de acordo com o colunista do G1 Matheus Leitão, após anunciar a candidatura à sucessão de Renan Calheiros, Medeiros conseguiu emplacar um aliado na direção-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), corporação que ele fez carreira.
Renato Antônio Borges Dias foi nomeado pelo governo Temer para o comando da PRF em 24 de janeiro.
Polêmicas
Embora seja novato na política, José Medeiros ganhou holofotes no Legislativo ao atuar na comissão especial que analisou o impeachment da presidente Dilma Rousseff no Senado. O parlamentar do PSD protagonizou discussões acaloradas com senadores que apoiavam a petista.
Um dos bate-bocas em que Medeiros se envolveu durante o processo de afastamento de Dilma foi com a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO). Na ocasião, ele cobrou educação e respeito ao tempo de fala. Em resposta, a parlamentar do PMDB disse que ele era “homem, mas não era dois”.
Medeiros também é dono de declarações polêmicas. Em uma sessão de debates no plenário do Senado, ele fez críticas a ocupações de estudantes em escolas públicas. À época, alunos haviam acampado em instituições de ensino para protestar contra a reforma do ensino médio e contra a PEC do teto de gastos.
O parlamentar declarou em um discurso que parte dos manifestantes estava nas escolas “para fumar maconha”.
Além de ter integrado a comissão do impeachment, o senador do PSD foi relator do projeto que tornou obrigatório o acendimento do farol de veículos durante o dia em rodovias.
Assim como Eunício, Medeiros não responde a processos e não é alvo de inquéritos no Supremo.